[RP] Chegada de Nefestus Henrique

Um sentinela da Porta da Vila corre até junto do Capitão da Guarda Gonçalo Hermingues para o avisar da chegada dum visitante ao velho burgo.

- Onde está ele? - questionou Hermingues.

O sentinela visivelmente estafado devido à subida até à casa da guarda responde em intervalos.

- Lá... em bai...xo... capitão... junto à... porta da-da... Vila.

Incomodado com a falta de fôlego do sentinela, o capitão deu-lhe uma palmada no peito, fazendo-o perder por instantes o equilíbrio e quase cair.

- Recomponha-se homem! Endireite-se que isso não é postura para se ter em serviço!

O sentinela depressa se endireitou e respirou fundo antes de responder ao seu superior.

- Pelo que pude apurar o visitante chama-se Nefestus Henrique, e está em busca de bebida.

Gonçalo pensou por largos segundos no nome do visitante, e como que impulsionado por uma mola, saltou do banco onde estava sentado e foi ao seu escritório buscar tinta e pergaminho.

- Mas que incompetente que tu és! O recém-chegado é Dom Nefestus Henrique de Malaquias e Monforte! Irmão de Sua Majestade Real e sobrinho da condessa! Vai já ter com ele e escolta-o até aqui! Imediatamente!!!

O sentinela ficou especado a olhar para o capitão depois daquela revelação.

- JÁ! PÕE-TE A MEXER!! - Gritou Hermingues já com a face ruborizada de raiva.

Não foi preciso muito mais para o sentinela começar a correr até à porta da Vila. Chegado lá pediu ao visitante que o acompanha-se até à casa da Guarda para se encontrar com o capitão.

Capitão? - pergunta-se Nefestus ao escutar o pedido do sentinela. Pensa então que talvez pagassem ali melhor aos milicianos, e confirma, seguindo com o homem o caminho rumo a um salário temporário e chances de pagar pela cerveja toda.

Enquanto o sentinela escoltava o ilustre visitante à Casa da Guarda, Gonçalo terminava de lacrar um documento para lhe entregar.
Escutou alguém a bater à porta, sabendo que seria o sentinela com Nefestus, o Capitão deu permissão para entrar. Eram de facto eles mesmos.
Tentando parecer acolhedor, indicou-lhe um banco.

- Sente-se senhor, esta casa não é o sitio mais acolhedor mas evita de ficar de permanecer em pé - gracejou para o convidado - Bom, fui informado que está de visita ao burgo, pois seja bem-vindo! Já tratei do seu salvo-conduto, enquanto por cá estiver mantenha-o sempre consigo.

O capitão pegou no pergaminho que estivera à pouco a redigir e entregou-o a Nefestus.



- Agora que estão tratados todas as burocracias, ouvi dizer que desejava beber qualquer coisa - fez um sorriso cúmplice - Pois bem, aqui na vila de Ourém orgulhamos-nos de produzir a melhor ginja da região, há uma tasca ali mesmo em frente ao largo da Igreja (colegiada) dos Monforte, quer que lhe indique o caminho até lá?

Gonçalo fez um olhar intrigado a Nefestus, mas logo de seguida soltou uma gargalhada.

- Meu senhor, não esperava essa. Mas terei todo o gosto em lhe pagar a cerveja e a ginja.

O capitão pegou na sua capa de lã e colocou-se à ombreira da porta donde ordenou ao sentinela que volta-se para o seu posto junto à Porta da Vila.

- Venha daí Dom Nefestus,vou-lhe mostrar o caminho para a tasca - fez sinal para que o visitante o seguisse e colocou a capa aos ombros.

Os dois desceram a rua encalcetada do burgo, passando por trás da casa paroquial e da pousada. Ao fundo da rua, à frente da igreja uma tabuleta de madeira era bem visivel



Gonçalo virou-se para trás e disse ao visitante que o seguia.

- É já ali à frente Dom Nefestus. A tasca do sr. Augusto...

Gonçalo entrou pela porta principal que dava logo acesso ao pequeno balcão, atrás deste encontrava-se um homem de idade franzino que os acolheu com um sorriso no rosto.

- Olá Gonçalo como vais? Quem é este senhor que te acompanha?

O capitão fez pediu a Nefestus que entrasse e respondeu ao tasqueiro.

- Olá senhor Augusto, vai tudo indo com a graça de Jah. Este cavalheiro é Dom Nefestus, está de visita à vila, por acaso não tens por aí cerveja para nos servir?

O velhote endireitou-se e respondeu ao capitão levemente indignado.

- Como assim cerveja?! Alguém que visita a primeira vez Ourém não pode beber cerveja, até porque ela por aqui não tem grande qualidade... A especialidade da região é o vinho tinto e a ginja! Seria um sacrilégio se o nosso nobre visitante passasse por cá sem os degustar!

Gonçalo calou-se, já previra aquela reacção do velho tasqueiro.

- Vou buscar os copos e já vos sirvo, olhem que não se vão arrepender!

O velho entrou na pequena dispensa atrás do balcão e voltou pouco depois com três copos, encheu-os primeiro com vinho e serviu-os aos clientes.

- À vossa saúde, que a minha já teve melhores dias - gracejou antes de beber o vinho de uma assentada.

Puxou então da garrafa de ginja e voltou a servir Nefestus e Gonçalo, para além de si.

- A ginja agora é para adoçar a boca e retirar o amargo do tinto - disse com um sorriso jovial estampado no rosto.

Gonçalo bebeu a sua ginja e de seguida tentou a sua sorte com o taverneiro.

- Olhe lá oh Augusto... é à conta da casa não é?

O velho olhou-o de cima a baixo e resmungou...

- A de Dom Nefestus é, pois sendo visitante não pode sair daqui com má impressão nossa, já a tua... vai para a conta!

Gonçalo riu-se, não esperava outra coisa afinal...

Gonçalo estranhou a ajuda de Nefestus.

- Dom Nefestus, estranha-me que alguém da sua condição social se ofereça para trabalhos destinados a servos ou camponeses - sorriu - Mas sim, há alguns trabalhos que os meus subordinados habitualmente têm em mãos. Grande parte deles não são apropriados a fidalgos como vós.

Gonçalo calou-se por segundos, pensou n'algo que fosse honroso o suficiente para Nefestus participar.

- Bem, todos os sábados fazemos um patrulhamento pelas aldeias da zona, caso desejar pode-nos acompanhar na próxima patrulha.

- Estimado capitão, não te devias estranhar com isso; a vida sem o trabalho torna-se demasiado vazia e monótona, não é dignamente uma vida. Mas não te enganes, mesmo os nobres trabalham; a política é uma importante peça em nossas vidas; sem ela não teríamos com quem nos opôr em tempos de paz. Este trabalho oferecido parece-me ótimo. Bebamos a isso!
Oferece, então, uma rodada a todos.

Gonçalo retirou duas moedas de cobre da bolsa que tinha à cintura e colocou-as ao balcão.

- Mais uma rodada òh Augusto! E desta vez cerveja!

Gonçalo pegou na sua caneca e ofereceu a outra a Nefestus

- À sua dom Nefestus!

Bateu com força a sua caneca na de Nefestus fazendo um gemido estridente ecoar pelas quatro paredes da taverna.

- Não me partam é os copos... - resmungou o velho taverneiro entre-dentes

Gonçalo bebeu a sua cerveja de um só trago e colocou o copo ao balcão.

- Muito bem... tenho que ir ao castelo agora, fui chamado para uma reunião com a condessa. Dom Nefestus deseja acompanhar-me?

Nefestus bebeu sua cerveja e então respondeu-lhe.
- Seria uma honra, meu amigo.

Hermingues encaminhou Nefestus até à saída da tasca e enquanto subia em direcção ao Paço contou-lhe o motivo da reunião com a condessa.

- Problemas nas aldeias do sul do condado. Não sei se já visitou essa zona, é muito montanhosa e pouco fértil, as pessoas lá vivem com dificuldades. Vivem essencialmente da pastorícia. Pois bem - fez uma pausa para ganhar fôlego - fui informado que uma alcateia tem atacado o gado e irritado a população... Olhe, estamos a chegar, vou ver onde anda o Frei Arthur, ele deve saber onde está a condessa.

O capitão dirigiu-se a um criado e disse-lhe algumas palavras, o rapaz, largou o que estava a fazer e correu para o Paço.